Olá, meu nome é Letícia Miyamoto, está no ar mais um AmatoCast pelo canal do Instituto Amato. E agradeço mais uma vez o carinho da sua audiência e participação aqui conosco para falar sobre tudo o que envolve qualidade de vida. Nos últimos episódios, nós recebemos convidados especiais. O último, inclusive, é uma continuação desse que a gente está fazendo agora com o doutor Marcos Ramos, médico-psiquiatra. O título, vocês já estão vendo o tema, mitos e verdades sobre a saúde mental. Antes, também, a gente conversou sobre várias doenças com ele, sobre vários subtítulos, subtemas do que a gente vai conversar hoje. Para quem não acompanhou, a gente está deixando o link para vocês conferirem. E antes, também, a gente recebeu convidados especiais para falar sobre dores nas pernas e também sobre dermatologia além da estética. Hoje também pode parecer diferente, pode parecer que não, mas a gente vai falar um pouquinho sobre dermatologia também. Então, antes de dar as boas-vindas de novo aqui para o nosso convidado, eu vou apresentar quem é o nosso médico de hoje. O doutor Marcos Ramos possui graduação em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, fez residência médica em Psiquiatria pela PUC São Paulo, Pontifícia Universidade Católica, e especialização em Dermatologia pelo Hospital Ipiranga. Mais uma vez, bem-vindo, doutor. Obrigado, novamente. A gente já estava conversando aqui, inclusive, nos bastidores, você me falou um dado que eu preciso começar citando, que é que o Brasil é o país mais ansioso, doutor. De todos os países, de toda a lista, o que aparece no top 1, por que isso acontece? Tem alguma explicação? Eu acho que deve ter muito a ver com políticas de saúde pública. A gente vive uma crise hoje, não só econômica, política também, e eu vou além. Eu acho que a gente vive uma crise de valores, que eu acho que, de uma forma ou de outra, podem contribuir para as pessoas estarem mais ansiosas hoje. Na verdade, para as pessoas apresentarem transtornos emocionais e de comportamento no geral. E pode chegar a esse tipo, a gente estava falando mal do século, que oficialmente, para a literatura médica, não sei se eu posso definir assim, é a depressão. Fala-se, não oficialmente, mas fala-se sobre a depressão, ser o mal do século, mas meu ponto de vista, eu entendo que o mal do século é a corrupção. Explicando melhor o que eu estou querendo dizer com isso, a gente costuma pensar sobre corrupção em outros níveis, eu estou falando sobre corrupção de valores. Eu acho que, independente de haver uma predisposição endógena, que a gente diz, é de dentro, genética, uma predisposição para desenvolver o quadro clínico, a gente tem experiências de vida, tem situações que a gente passa por elas, que contribuem para você desenvolver o quadro clínico. E fazer boas escolhas não garantem paz e felicidade, fazer más escolhas vão garantir menos. Quando a gente faz escolhas que não estão fundamentadas em valores bem definidos, a gente vai ter uma tendência maior a fazer escolhas que não têm resultados ruins. Então eu acho que uma coisa que não se trabalha tanto hoje é essa questão dos valores. Eu acho que isso é parte da prevenção para um paciente, para um futuro paciente, para que ele não venha cedo. Então você trabalhar valores, trabalhar um convívio harmônico e família, trabalhar a busca por propósitos, trabalhar ambientes sanitários, que a gente já tocou nesse assunto. Então eu acho que o crescimento pessoal se dá em todos os níveis, e a gente não pode deixar de entender que não é só profissional, não é só na comunidade, não é só na família, ele é universal, e isso demanda a busca, eu entendo que a busca de valores é uma coisa importante nesse crescimento individual. Sim, e isso doutor, essa questão dos valores não está muito ligada, a gente fala agora, sair um pouco dessa questão genética, que se alguém está de fato destinado a ter alguma condição, mas valores a gente também não tem como deixar de falar dessa parte da família, porque vem muito de como a pessoa é criada, agora como que a pessoa pode mudar isso, como que é uma forma, não sei se eu estou sendo clara na minha pergunta, mas por exemplo, quem não foi criado da forma que poderia evitar que uma condição aparecesse, a pessoa é capaz de fazer isso sozinha, como buscar isso? Bom, como essas experiências de vida têm um impacto muito grande nesse sentido, e as experiências passam pela nossa interpretação e o comportamento que ela gera, e a interpretação que a gente tem do mundo passa pela nossa personalidade, então assim, o ensino, as experiências, ela não é só dentro de casa, fala-se de um impacto quase muito semelhante entre os primeiros contatos na infância com os contatos dentro de casa, então eu acho que trabalhar, como eu estava falando, trabalhar os valores, principalmente na criança, no desenvolvimento da personalidade da criança, é importante, entender o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é ruim, nas escolhas que ela faz. De uma forma ou de outra, eu acho que isso acaba impactando a vida adulta, porque a personalidade, ela se fecha na vida adulta, mas ela se inicia na primeira infância. Sim, é porque a gente vê que realmente quem tem, talvez seja até polêmico, mas quem tem uma base mais consolidada, desde criança em casa, já foi criada com esses valores mesmo, essa definição acaba sendo mais fácil passar por esse processo de... Vamos dizer que é um valor, é um fator a menos. Você pode ter sido criado em um ambiente muito salutário, em que você teve bons exemplos, mas se a genética for forte para desenvolver um quadro, querendo desenvolver da mesma forma. Ou você ser muito suscetível a alteração hormonal, você ter um hipotireoidismo, uma alteração, o teu ciclo, você ter um transtorno disfórico pré-menstrual, que seja mais evidente no sentido de sintomas emocionais, uma alteração hormonal de qualquer natureza. Então assim, como a gente falou, a somatória de valores, de fatores. Cada pessoa responde mais a um ou outro. E tem alguma forma de, por exemplo, você, independente do seu meio, do trabalho, relacionamento, como se blindar de tudo isso para evitar que alguma condição que a gente citou no outro, que a gente vai falar de alguns agora também, que elas apareçam? Bom, atividade física é importantíssima. Libera endorfina, endorfina regula sono, apetite, libido, melhora o humor, diminui a ansiedade. Então a atividade física é muito importante. Uma boa qualidade do sono. Durante o sono, a gente tem, vamos dizer assim, a limpeza do Winchester. Você não é do tempo do Winchester, mas é a memória, o CPU é limpo durante a noite, quando você tem uma boa noite de sono. Se alimentar bem. A alimentação é essencial. Por exemplo, tem alimentos que são ansiogênicos. Você toma muito café, chá preto, coca-cola. Então cuidado na ingesta do açúcar. Então se alimentar bem, dormir bem, hidratar bastante, fazer atividade física, eu diria que essas coisas são essenciais. Mas você ter propósitos, eu acho muito importante. Você ter uma mente ativa, leitura, muito importante. Você aprender coisas novas. Vamos dizer que a musculação cerebral é você estar aprendendo coisas novas. Realmente, as vezes a preocupação é tão, usar a palavra musculação, tão superficial ali na vida das pessoas. E realmente as vezes acaba deixando de lado isso. Mas por que você está fazendo tudo isso? Onde você quer chegar com tudo isso? Às vezes até aquilo que a gente estava falando da ansiedade. Essa angústia de ficar fazendo, de abraçar o mundo, fazer um milhão de coisas. Mas onde que isso vai levar? Até eu tenho uma definição, uma frase que eu escutei recentemente que fala, você está vivendo ou você está sobrevivendo? E também tem a questão de você viver esperando o final de semana, viver esperando a sexta-feira, viver esperando as férias, e você não gostar da sua rotina. A gente se acomoda no desconforto, muitas vezes. Por quê? Porque a mudança, ela demanda energia. E o nosso corpo, ele vem de um ancestral que não tinha nada a mão. Então pra ele, toda vez que ele tinha que fazer uma mudança, demandava energia, e ele não sabia se ele sobreviveu o inverno ou o seguinte. Então o corpo, ele tende a buscar estabilidade. Porque tudo que demanda mudança, demanda energia. Então a gente às vezes se acomoda no desconforto. É, de fato. Agora a gente ficou de citar, doutor, no último episódio a gente falou bastante sobre os transtornos. Então vou até citar de novo pra quem não acompanhou e vai ficar curioso. A gente citou sobre o diagnóstico, o diagnóstico, como definir se a pessoa precisa de um tratamento mesmo ou não, como que funciona, os pilares do tratamento. A gente falou transtornos de humor, transtornos de ansiedade, os psicóticos e de desenvolvimento. Aí ficou agora pra gente falar sobre o de personalidade, os de personalidade, porque são vários. Quais os mais comuns, os mais interessantes aí pra gente citar? Bom, os transtornos de personalidade são os descritos tanto no CID, quanto no DSM, que são duas classificações diferentes. O CID é mundial, o DSM é da Associação de Psiquiatria Americana. Eu acho mais interessante o do DSM, ele divide em três grupos. O grupo A, que são dos excêntricos, os diferentes. A gente tem o tipo que é o esquizotípico, o esquizóide... Quer dar uma olhada? É... Ou se não quiser citar, assim... É, talvez... Tá bom, então vamos voltar. O grupo A, volta no grupo A? Dá pra voltar? É, a gente tá voltando, tá? O grupo A... Tudo? Aí fecha, fecha. O grupo A são os que são diferentes. São aqueles excêntricos, tem divisões entre eles, não cabe nesse momento estar colocando, mas são aquelas pessoas que têm uma personalidade que ela foge um pouco, é mais evidente ela ser excêntrica. O grupo B seria dos dramáticos, os emocionais, os erráticos. Então, o que a gente pode falar por aí, como é muito mais presente, vamos falar um pouco deles? O borderline, o histriônico, o narcisista, o antissocial. E o grupo C, que são dos mais preocupados, medrosos, mais ansiosos. Aí a gente pode colocar o dependente, podemos colocar, por exemplo, o obsessivo compulsivo. Então, assim... É importante entender, porque eu cheguei a falar sobre transtorno de personalidade ser um diagnóstico aversivo, a pessoa não gosta muito de ouvir. A gente não está reduzindo a pessoa àquilo. A personalidade de uma pessoa é uma seleuma de coisas. Ela pode ser benevolente, pode ser compassiva, ela pode ser paciente. Quando que a gente entende que existe um transtorno? Quando determinadas características, elas são inflexíveis, elas são nucleares e, assim, muito intensas, muito expressivas e estão trazendo prejuízo. Se não, a gente pode dizer que são traços. Então, não é porque uma pessoa é borderline que ela não pode ser uma série de outras coisas, uma série de outras características e personalidade boas. Então, quando ela começa a sentir prejuízo na vida dela, bio, psíquico, social, é uma frase que eu estou sempre falando, que é básica para você buscar ajuda. Quando ela começa a ter prejuízo dela, ela vai buscar ajuda e vai se identificar do quadro. E é muito comum a comorbidade. As personalidades costumam caminhar juntas. Ela pode ter uma personalidade dependente e ao mesmo tempo ser obsessiva-compulsiva. Ela ser obsessiva-compulsiva e ser borderline e estriônica. É muito comum a associação de transtornos de personalidade e com outros transtornos também. Um deprimido com borderline, um estriônico, que é bipolar. E, doutor, você falou bastante agora sobre a dificuldade do paciente aceitar o diagnóstico. Como que funciona quando esses sintomas são muito fortes? O diálogo com o paciente no seu consultório. Você precisa de alguém da família para que ajude a pessoa? Essa consulta costuma ser assim, com um familiar junto, para que ele ajude ali no diagnóstico, na forma do tratamento? Como que funciona? Bom, eu, como psiquiatra, isso vai muito da prática clínica de cada um. Eu gosto de trabalhar com a família. Eu atendo o paciente sozinho e peço a presença do familiar quando eu acho que há necessidade. Uma coisa é você estar vivendo no olho do furacão. O outro é o olhar do outro, principalmente do próximo, da pessoa mais próxima. A gente vive pelo olhar do outro. A gente existe pelo olhar do outro. Sobretudo hoje, na sociedade que a gente vive, da internet. Você vê hoje, principalmente nos jovens, essa questão do reconhecimento, da aprovação, nas postagens, nos likes. Então, a gente vive muito pelo olhar do outro. E eu, para eu trabalhar, eu ouço muito o familiar, a pessoa próxima, que me traz informações importantes também. Entendi. Inclusive, eu imagino que seja um diálogo difícil. Igual você falou, algumas pessoas não conseguem aceitar muito bem o diagnóstico. Sim. É porque elas se sentem julgadas, limitadas. Elas não entendem que ali é por um olhar técnico, não é uma questão de julgamento. Obviamente, eu tenho meus defeitos também. Então, ali a gente não está buscando defeitos. Ali a gente está buscando características que são mais intensas e que podem estar trazendo um prejuízo. Então, por exemplo, você pega um paciente que o transtorno de personalidade mais presente que a gente vê aí é o borderline. Você pega uma pessoa que ela é muito reativa, ela tem uma variação de humor, as frustrações muito intensas. Ela é impulsiva. Então, ela tem algumas características que começam a trazer um prejuízo para ela. E você vai apontar? Você tem que ter tato para apontar isso. Porque, às vezes, ela se sente julgada. Ela fala, quem é você para dizer que eu sou assim? Você fala, não, eu não estou colocando, você é muito mais que isso. Mas isso está em um ponto que está trazendo prejuízo para você na vida, não é pontualmente, ao longo da vida. É bem interessante. O pessoal gosta de saber também sobre esses bastidores de cada profissão. E a sua tem muita coisa interessante. Eu imagino que quem é próximo também é aqueles amigos que te encontram que tem outra profissão. Porque, às vezes, o médico sabe, mas assim, que tem outra profissão, fica, mas como que é isso? Como que é aquilo? No meu tem bastante isso também. E já teve alguma situação de algum paciente chegar a te agredir? Chegar a te ameaçar? Chegar a te colocar em risco dessa forma? Não, não. Eu acho que a primeira coisa que é importante quando você atende um paciente é você estabelecer um vínculo. E você buscar, principalmente em saúde mental, a gente busca muito isso. Que é não só a empatia, mas a escuta livre de julgamento. Pra pessoa se sentir confortável quando ela passa com você pra expressar o que ela precisa expressar. Às vezes eu brinco pro paciente. Eu falo, olha, se você quiser me falar que você queria estar com uma cacau laranja, num cavalo verde, com uma melancia na cabeça, você pode me falar que eu não vou te julgar por isso. Você tá aqui num ambiente seguro, sigiloso, que você pode falar o que você tem vontade. Então, assim, eu não tive nenhuma situação dessa natureza, graças a Deus. É, que te vem na cabeça, né? E tem de fato, doutor, quando começa o tratamento de ter uma piora pra depois ter a melhora de fato? Sim. Existe isso de mexer ali no vespeiro, igual o pessoal fala? Sim, algumas medicações, na introdução, o paciente piora. Uma classe dos antidepressivos, que são os antidepressivos de ação dual, eles têm muita essa característica. Na introdução, o paciente, às vezes, você usa antidepressivo pra contextualizar. O antidepressivo você usa pra tratamento tanto de humor quanto de ansiedade. Tratamento de ansiedade é antidepressivo. Ele tem a ação ansiolítica. Ansiolítica é de reduzir a ansiedade. Então, os antidepressivos de ação dual, eles têm essa característica. Na introdução, a pessoa, às vezes, tem uma piora da ansiedade. Ela fica mais agitada, pra daí ele fazer o papel que se espera da droga. Entendi. E o tratamento é naqueles pilares que a gente citou. Inclusive, vale a pena a gente falar de novo, né? De personalidade, a mesma coisa, doutor. Tem algum desafio, alguma pedra ali no caminho que você acha mais característico? Sim. Sim, porque eu entendo que nos transtornos de personalidade, o papel do médico, ele é secundário. A não ser que o médico esteja fazendo a psicoterapia do paciente. O papel psicotérapico, ele é essencial. O papel medicamentoso é secundário. Lembrando que a psicoterapia pode ser feita por um profissional médico ou psicólogo. Ou há quem procure terapia outra que não seja realizada por um profissional da saúde. Então, terapia é essencial pra um quadro de personalidade. O medicamento a gente usa mais pras comorbidades ou pra algumas manifestações, a gente abafa algumas manifestações do transtorno de personalidade. Não existe um remédio dirigido pra transtorno de personalidade. Entendi. Não tem um remédio pra borderline? Não. Mas, introduzindo um termo que nem todo mundo entende, e a ideia é falar com quem não entende na área, seria o fenótipo. Fenótipo é a apresentação. Genótipo é o que vem do gene. Fenótipo é como se apresenta. Algumas apresentações se assemelham muito ao outro quadro. Por exemplo, o borderline, ele tem uma variação de humor que se assemelha à variação do bipolar. Só que o bipolar parece ser mais espontânea e a do borderline ser mais reativa. A do borderline é mais uma disforia, uma coisa emocional. A do bipolar é uma coisa mais endógena, genética. Mas os dois, eles podem responder bem a um estabilizador de humor. O tratamento acaba sendo assim, o medicamento usa pelo menos parecido. Às vezes você usa medicamentos semelhantes. Agora você pode pegar, por exemplo, um histriônico, que é aquele tipo de personalidade que busca muita atenção. Que ele está deprimido. Você vai dar um antidepressivo. Um narcisista, que é aquele que busca admiração acima de tudo. E ele pode estar ansioso. E você vai dar um antidepressivo pra ansiedade dele. Eu já vi muitas pessoas falando sobre os narcisistas, inclusive que médicos, imagino que seja até polêmico, alguns falando que não existe o narcisismo. Sua opinião sobre isso? Já escutou alguém falando sobre isso? Que o narcisismo não existe? Não, mas assim, não duvido que está quem fala. Eu já vi. Até que a gente mude a identidade nosológica dele, ele não entre mais dentro dos critérios diagnósticos, ele é um diagnóstico de transtorno de personalidade. Que é o narcisista. O que acontece é o seguinte, é muito difícil você pegar um transtorno de personalidade puro. É muito comum a comorbidade. É muito difícil você pegar só o narcisista. Entendeu? Então, talvez, o colega que colocou assim, talvez tenha colocado nesse sentido. Entendi. Tá. Unido ali, né? E na lista que a gente, até pra quem não sabe como funciona, antes de conversar aqui, a gente fala dos bastidores ali, o que a gente vai citar, faz uma pesquisa sobre o tema. Na nossa lista aparece o dependente emocional. Na lista dos transtornos de personalidade. Mas que nível que é esse transtorno de... É dependente emocional, doutor? Ele tá no grupo C de diagnóstico. Dos transtornos ansiosos. No primeiro momento você pensa no dependente como sendo um transtorno de personalidade do grupo B, que eu tava falando que é dos instáveis, dos erráticos, dos mais emotivos. E do dependência, uma coisa característica do dependente é que ele é muito submisso. É aquela pessoa que não sabe dizer não. Que às vezes se propõe a fazer alguma coisa, às vezes até de risco pelo outro, porque ela não sabe dizer não. Assume alguma coisa que o outro não assumiria pra poder proporcionar pra aquela o que ela precisa. Entendi. Os transtornos de personalidade, eles ficam mais evidentes quando se tem gatilhos. Por exemplo, o dependente, se ele se sente na iminência de ser abandonado, ele pode deflagrar isso com mais... Ficar só pode deflagrar com mais força. Entendeu? O narcisista, se ele tá numa situação social que ele acha que ele não tá sendo valorizado, pode manifestar com mais intensidade. E por aí vai, por exemplo, daquele primeiro grupo que eu falei, o grupo A, que tem o esquizotípico, o esquizóide, que são os excêntricos. Eles têm dificuldade de socializar. Então eles, às vezes, numa situação em que eles têm que socializar mais, eles podem deflagrar o quadro com mais evidência. Pode ser mais aparente o quadro clínico. E tem sículos também, fases, doutor, que aparecem na vida independente de fatores externos. Aqueles sintomas vão estar mais fortes. É normal ter essa inconstância? Boa pergunta também. Transtorno de personalidade, uma vez desenvolvida a personalidade, ela é constante. O que tem são gatilhos. Mas ela vai estar sempre presente. Os gatilhos vão estar mais evidentes. Entendi, que foram esses gatilhos que você escutou, de cada um, qual a sua característica. E doutor, borderline é um que a gente tá, pelo menos na minha experiência das pessoas próximas, a gente começou a escutar mais recentemente. Tem algum motivo pra isso? De ter tido esse... Não era algo que a gente escutava muito, né? O borderline e também aquele do... Até esqueci o nome agora, que não tava na nossa lista. De quando você tá muito cansado ali do trabalho, que é uma doença... Burnout. Burnout. Mas aí a gente tá perguntando totalmente. Burnout. De transtorno de personalidade. Sim, sim. Mas eu achei muito legal. Eu acho que isso aí, essa pergunta, foi a melhor de todas até agora. Por quê? Porque é onde eu quero dar uma provocada. Eu entendo que hoje a gente tem ouvido muito sobre borderline porque a personalidade, ela se expressa na sua potencialidade em períodos de maior pressão. Em períodos de crises, em períodos em que a gente sente mais o peso do momento que a gente tá vivendo. E aí a gente percebe, você ouve muito isso de colegas na saúde mental. Tem acontecido mais problemas de saúde mental depois da pandemia? Não. Mas a gente percebe que os quadros estão vindo mais intensos, mais difíceis tratamento. Mais difícil de conduzir. E eu, do meu ponto de vista, acredito que é sobretudo por conta da personalidade. Eu acho que hoje, a bola da vez, é TEA e TDAH, mas eu acredito que a próxima bola da vez vão ser os transtornos de personalidade. Porque a gente vem de períodos de crises, crise econômica, crise política, crise ecológica, ambiental, vamos dizer, crise ambiental. Então é enchente no sul, é deslizamento lá em Minas, a pandemia. Então, tudo o que a gente está vivendo hoje, eu acho que está contribuindo à possibilidade de guerras, política internacional. Então, tudo isso, eu acho que facilita a manifestação de um transtorno de personalidade. Eu acho que vai ser a próxima bola da vez. É a minha aposta. E, Entre, você falou que facilita os transtornos de personalidade, mas por que especificamente o borderline? Não facilita o desenvolvimento, facilita a gente, a apresentação fica mais evidente. O borderline é o que a gente costuma ver bastante dos transtornos de personalidade, é um que costuma ver bastante. Eu não trabalho muito com a questão do desenvolvimento, mas como ele é um quadro clínico, que ele não é um transtorno do desenvolvimento, mas ele é um quadro clínico nuclear que tem genética também envolvida, mas existe uma questão para a expressão das experiências de vida que eu acho que estão muito associadas. Olha, eu não sei dizer até que ponto a realidade que a gente vive hoje dentro de casa e fora contribui para o desenvolvimento dos transtornos de personalidade, sobretudo o borderline, que é o que a gente mais observa. Eu não acredito muito também no transtorno de personalidade isolado. Eu acho que ele sempre acaba vindo como comorbidade, mesmo entre as próprias personalidades. Mas com certeza o que a gente vive hoje está relacionado com o desenvolvimento, inclusive fugindo um pouco de personalidade, o PE e o TDAH. Eu não compactudo a ideia hoje em dia, por exemplo, de quem pensa que a criação está relacionada ao desenvolvimento de um transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade, mas eu acho que os hábitos de hoje contribuem de alguma forma para você desenvolver. Hoje uma criança, ela não dá mais trabalho. Por quê? Porque existe um celular, um tablet para você entregar para uma criança se fechar no mundo dela. E o que é o autismo? É uma pessoa que se fecha no mundo dele. Não estou falando que só isso fique claro, que é determinante, mas que os tempos atuais estão contribuindo de alguma forma, eu acredito que sim. E do borderline de novo, doutor, quais são realmente os sinais de alerta? A gente citou no outro, mas só para ficar bem... Porque, igual a gente falou, a gente escuta muito falar, mas, pelo menos na minha cabeça, não é muito definido o que de fato é o borderline. É um termo que a gente está escutando bastante, mas a definição, de fato, muita gente não sabe. Assim como burnout, você até citou, que não tem nada a ver uma coisa com a outra, mas foram dois termos que a gente começou a escutar bastante e, às vezes, não sabe de fato a definição ali na prática. Relacionamentos instáveis são pessoas que parecem que precisam viver as emoções de maneira exuberante, tanto a boa quanto a ruim. A dificuldade de lidar com frustrações é uma coisa que você percebe muito no borderline. Uma questão também é a impulsividade. É muito comum no borderline. O que mais que a gente poderia colocar de interessante para um border? A questão do vazio existencial. E tudo isso de uma forma mais aguda, como você citou. Que chama a atenção e que afeta a vida daquela pessoa. Agora, você vê, a gente conversou sobre bastante coisas. Em nenhum momento a gente conversou como são semelhantes, mas como tem coisas, porque como é difícil o diagnóstico, e como é nosso notório, por isso que alguns diagnósticos demoram um ano para poder se chegar. Porque você vai ver a dificuldade de socialização anterior. Você vai ver um transtorno de espectro do autismo, dependendo do grau do transtorno de personalidade. Você vai ver características de transtorno de humor num bipolar, que às vezes você não chegou na bipolaridade, você está achando que é só uma depressão. Você dá só um antidepressivo e ele pode subir e jogar lá para o polo eufórico, porque na verdade é num bipolar. Então tem algumas características no curso do transtorno, que fica mais identificável. Nem sempre numa primeira consulta, numa segunda, às vezes leva tempo. E o tratamento medicamentoso começa quando isso já está definido ou não? Tem uma forma de você aliviar os sintomas sem saber de fato, sem cravar ali o diagnóstico? Como que funciona? Porque, por exemplo, você falou que às vezes pode chegar até demorar um ano para a pessoa ter o diagnóstico cravado. Nesse um ano ela não vai tomar nenhum medicamento. Como que funciona esse período de tratamento? Eu falei nisso, sobretudo, por exemplo, no autismo ou num TDAH bem avaliado. Eu acho que se não é uma pessoa que trabalha só com isso, nem sempre é evidente. Então não que todos demorem um ano, mas às vezes demoram até um ano. Mas o TDAH até tem medicação específica para você trabalhar, mas o autismo não tem nenhuma medicação específica. Então, na verdade, o que a gente vai acabar tratando? Aquilo que eu estava falando com você, o fenótipo. Falou que manifesta. É. Você vai tratar o fenótipo e ao longo do caminho você vai identificando. Agora, tem alguns quadros clínicos que a gente tem que ter muito cuidado. Por exemplo, é o que eu falei do transtorno de humor. Você identifica se a pessoa é bipolar ou depressiva. O depressivo você trata só com o antidepressivo e eventualmente um ansiolítico associado. Pode associar outras drogas dependendo do grau que se manifesta. O bipolar a gente tem que usar a base do tratamento estabilizador de humor, senão a gente corre o risco, vamos dizer assim, que o humor da gente seria essa uma faixa de normalidade. Ele varia dentro dessa faixa um pouquinho. Quando ele está deprimido, ele está lá embaixo. Quando ele está eufórico, ele está lá em cima. Se você só identifica o polo lá embaixo da antidepressiva, só precisa jogar ele lá pra cima. E ele entrar em você fazer uma hiatrogemia. Que é fazer o cara desenvolver um... Desenvolver não. Manifestar um quadro eufórico em função da droga que você introduziu. Nossa, tudo muito bem ali avaliado. Por isso que quando alguém tem um diagnóstico e começa a tomar um medicamento, costuma ser uma avaliação, um controle ali de perto. Isso é importante. Às vezes o paciente quer estender o tempo de consulta o tempo entre as consultas, mas a gente precisa principalmente quando o diagnóstico é nem certo. Ou quando não respondeu ainda o que se espera da medicação, a gente mantém mais próximo o paciente. Pra ter um controle maior. Evidente que eu gosto muito de trabalhar com o terapeuta. Discutir com o terapeuta, como se... Primeiro, porque eu entendo que ele tem um papel fundamental no tratamento. Segundo, que ele acaba sendo meus olhos. Porque ele está vendo semanalmente o paciente. Tem esse diálogo? Existe? Entre o psiquiatra e o... É pra ter. E vai do profissional. E as equipes costumam trabalhar juntas, doutora, ou não? Então, se você não tem uma equipe fechada, você se propõe a buscar o colega. Então, eu quando atendo um paciente, eu peço primeiro a permissão dele pra eu trocar uma ideia com o terapeuta dele. Se ele me der a permissão, eu peço contato, entro em contato, e converso com eles, e coloco o meu ponto de vista, quero ouvir o deles, pra gente alinhar o tratamento. Porque se ele estiver entendendo de uma forma e eu de outra, nós vamos trabalhar diferente. Sim, legal. Essa união, esse diálogo. Doutora, agora eu vou usar um tempo pra gente falar um pouquinho sobre psicodermatose. Primeiro, definição, que você defina o que é isso, como se manifesta, se é comum, enfim, do que a gente tá falando, pra que fique bem claro. A gente tá unindo duas especialidades. Falei aqui no início, mas pra quem não acompanhou o outro episódio, volta lá pra ver, mas pra destacar de novo, você acabou fazendo as duas especialidades, tanto a Dermato como a Psiquiatria. Sim. Então, as psicodermatoses são quadros dermatológicos relacionadamente. Então, assim, primeiro de tudo, a gente tem que entender o seguinte, que as emoções, o estado emocional, ele vai ter influência em N problemas de saúde, por várias vias. Principal, via psiconeuroimune. Então, a gente percebe muito, por exemplo, em doenças autoimune. Que o cara tem um quadro e, por exemplo, morre o pai. E ele piora o quadro clínico. Perde o emprego, piora o quadro clínico. Fica com o quadro depressivo, ansioso, piora o quadro clínico dele. Um vitíligo, por exemplo, a malha, fica o corpo manchado em outras áreas, entendeu? Então, assim, existe uma relação entre saúde mental e saúde física. Na dermatologia a gente percebe muito isso. Tem alguns quadros que você vê, quadros que tem manifestação dermatológica, como deu o exemplo, a vitíligo, psoríase, lupus, que tem manifestações dermatológicas e quando a pessoa está com uma alteração emocional, você vê que impacta. E tem quadros que são primariamente, são psicodermatólogas primárias, vamos dizer assim. Então, por exemplo, tricotilomania é um tipo, tricotilomania, a pessoa tem compulsão de tirar cabelo, pelo, ela pode ficar puxando o cabelo e mordendo. Todo mundo já viu alguém que fazia isso, fica puxando a sobrancelha. Nossa, aí fica bem... É um quadro compulsivo. Ele está dentro dos transtornos somáticos. Então, que pode ser um assunto que é longo, os transtornos somáticos, para um novo encontro. Mas a tricotilomania é uma manifestação. Tem o transtorno de esmorte corporal, que é quando uma pessoa, para dar extrema atenção para um defeito físico, ela hiperdimensiona esse defeito físico. Então, ela tem uma pintinha no nariz, ou ela teve acne, ela não se sente mais confortável socialmente, em função dessa lesão. Então, é aquele adolescente que você vê, num calor de 40 graus, ele chegar com moletom preto de capuz na escola. Tá? Tem o delírio de parasitose, que é um quadro psicótico. A pessoa tem a percepção de que ele tem um bichinho andando por debaixo da pele. Muitas vezes, ele chega com um pedacinho da pele que ele tira e fala, ó, tá vendo? Tá aqui, ó. Mostra guardado, assim. Você vê que não tem nada ali, mas ele tem essa percepção. Gente, essa eu nunca escutei falar. Essa é bem diferente. E o que eu acho que é mais presente de todos, e esse tem até um caráter legal envolvido, eu acho que é o mais interessante, que é a dermatite artefata e a escoriação neurótica. A dermatite artefata é aí que o link da psiquiatria e dermatologia é interessante. Porque as duas apresentam dermatologicamente a mesma coisa. A pessoa, ela provoca lesões. Ou ela fica contocando imperfeições da pele ou outras lesões e aparece com lesões ulceradas em diferentes fases de cicatrização com formatos bizarros que você percebe que foi autoinfringida. Foi ela mesmo que fez. Mas tem uma diferencinha entre uma e outra. Entre a dermatite artefata e a escoriação neurótica. Na dermatite artefata, há a intenção da lesão. A pessoa quer provocar a dor. Seja por um estado emocional, em que se automutilar traz algum alívio, seja porque estar com lesão chama uma atenção. E ela não está tendo de outra forma. E a escoriação neurótica não. Ela já é mais um ato compulsivo, ansioso. Geralmente a dermatite artefata não assume o ato em si. A escoriação neurótica o cara coloca como incontrolável. Como a tricotilomania. Que é o que tem a compulsão de puxar o cabelo. Tem uma compulsão que ele não consegue controlar de se cutucar. Então, isso faz diferença no tratamento. Porque um tem um caráter mais ansioso, que é a escoriação neurótica. O outro tem um caráter mais de instabilidade emocional. Que é a dermatite artefata. E por que tem um caráter até legal importante nesse sentido? Porque existe uma coisa, você já deve ter ouvido falar, síndrome de Munchausen. Já ouviu alguma vez? É aquela pessoa que fica indo em hospital falando que tem uma doença. Fica procurando doença. E às vezes se auto-infringe lesões. Não aceita que não tem um diagnóstico e vai no outro. E não assume que é ela própria que faz. E tem principalmente uma situação ainda mais crítica nesse sentido. Que é quando provoca na criança pra se ter atenção. Que se chama síndrome Middle. Então a pessoa provoca na criança a lesão pra poder ter essa atenção, pra poder ter essa ajuda de alguma forma. Então assim, é um quadro que link das duas áreas. E é possível mesmo, doutor, desse outro nome que você citou? De quando a pessoa fica procurando uma doença, por exemplo, que acredita que tem qualquer nome mesmo? A Munchausen? Isso. Era esse o nome, né? Munchausen? É, Munchausen. Nossa, é bem diferente. Mas a definição, com certeza alguém conhece alguém, ou tem alguém na família que já passou por algo parecido. Da pessoa procurar tanto e acreditar que tem e realmente desenvolver aquilo que a pessoa acreditou. Não só ela. Como até o que a gente chama de folia D. Que é de francês, que é loucura 2. Que é o outro começar a acreditar que tem e às vezes até mostrar os mesmos... Começar a ter as mesmas queixas. O outro que eu digo, companheira, companheira, alguém da família, próximo, né? Então a pessoa, ela ter a convicção, né? De que tem o quadro clínico. Beira é uma coisa psicótica, né? Sim. E aí pode chegar a desenvolver de fato aquilo que ela acreditou que tem. Uma doença... Não. Desenvolver uma doença de fato, não. Mas ela pode se provocar, né? Como eu falei, provocar lesão. Ela pode ter alguma consequência dentro disso que a gente está falando, mas... Sim, sim. Se provocar lesão. Ela fala, tem uma lesão aqui que aparece, não sei o que. Você fala, não, mas você identifica, tem alguns sinais pra você identificar que você percebe que aquela lesão é auto-infringida e ela não assume. Não é que a lesão vai começar a aparecer porque ela acredita que aparece. Ela se provoca, né? Entendi. E a forma de tratamento é sempre integrado também. A dermatologia com a partir da... É difícil achar um médico como você que tem os dois, né? As duas formações. Mas como funciona o tratamento nesse caso? Olha, nem sempre é integrado. Então, nem... Tem muito dermatologista que ele se sente mais confortável de atender, tem outros que não. A gente estava conversando sobre... Eu estava falando sobre o TEA e o TDAH em adulto, que eu acho que ele é mais interessante quando ele é conduzido por um colega que seja subespecializado nessa área. É difícil encontrar dentro da dermatologia quem tem a disposição de trabalhar com isso. Mas é... É mais bem conduzido com um profissional de saúde mental associado. Psicólogo, psiquiatra, né? Entendi. Legal. Agora então, doutor, vamos para os mitos e verdades. Eu tenho certeza que vai ser bem... Tem bastante curiosidade aqui. É sempre muito legal quando a gente faz. Então, pra quem também está chegando agora... Pra quem já conhece, já está acostumado. Mas a gente faz um quadro de mitos e verdades aqui, sempre no final do nosso episódio, pra pegar aquelas dúvidas da internet, quando você faz uma pesquisa ali e desce aquela... O que as pessoas têm procurado, né? Os trendy topics sobre determinados assuntos. Então eu fiz uma... Fiz um compilado aqui de tudo isso que a gente conversou. Algumas coisas eu imagino que a gente já tenha respondido, mas outras a gente vai poder esclarecer. Então, primeiro, doutor, tristeza é sempre sinal de depressão? Isso lá do outro episódio. Não. Tristeza é da natureza humana. Luto é da natureza humana. Tristeza não é sinal que a gente fala, patognomônico, é o termo que a gente usa quando fala que é determinante de uma determinada doença. Característico de uma determinada doença. A tristeza pode estar presente, nem sempre tão aparente numa depressão. Às vezes é mais aparente numa depressão o desânimo, a irritabilidade, a falta de vontade. Mas a tristeza é uma das características da depressão. Mas não é determinante. Ansiedade é sempre ruim e precisa ser tratada? Então, é mito. Como eu tinha falado, a ansiedade era importante. A ansiedade é a resposta ao estresse. Então, ela é importante para o ser humano, nem sempre ela tem que ser tratada. Ela só é tratada quando ela está gerando um transtorno. Em geral, quando ela é constante. Aí sim, quando a pessoa desenvolve um transtorno de ansiedade, a gente busca o tratamento. A gente precisa da ansiedade para mobilizar o comportamento. Eu acho muito interessante, eu gosto de falar para os meus pacientes, quando você não sabe uma coisa que escolha fazer, tenta simplificar a vida e pensar de maneira mais natural. Vida é movimento. Então, a gente tem que estar se movimentando. Ansiedade é geradora de movimento. Então, ela é importante para o ser humano. É certo a gente falar que de uma certa forma, em um certo grau, entre aspas, todo mundo tem ansiedade. Sim. Terceiro, o transtorno bipolar é só ter altos e baixos de humor? Legal essa. O transtorno sim. O transtorno afetivo bipolar, a principal característica é a variação de humor. É a principal característica. Mas, eu usaria um... Eu iria além. Volto no que o podcast se propõe. Qualidade de vida. Sim. Então, não é questão só ter a variação de humor. É ter uma variação de humor que provoca um prejuízo de qualidade de vida. Agora, a variação de humor pode cursar com alterações autonômicas. Por exemplo, você está deprimido e não querer sair da cama, não querer se alimentar. Aí você está em um estado eufórico e daí você fica acelerado. Você não querer dormir. É diferente a insônia de uma pessoa ansiosa que acorda cansada e a insônia de uma euforia que o cara tem menos necessidade de sono. Ele acorda assim por hora. Entendeu? Então, tem outras manifestações que vão além da variação de humor. Quem tem esquizofrenia vive em um mundo de fantasias o tempo todo? Olha, depende do grau de como está sendo conduzido o quadro clínico do controle dos sintomas psicóticos. Tinha um documentário australiano, se eu não me engano, que foi feito por um esquizofrênico. E, antes do término do documentário, o repórter que era esquizofrênico teve uma crise. E na crise foi uma crise que não foi muito legal. Mas, num dado momento, ele está entrevistando um esquizofrênico e ele vira e fala assim, não tem noção, esquizofrênico é o maior barato. Como se as alucinações ou os delírios que ele tinha fossem experiências interessantes. Mas, em geral, são angustiantes. Não são confortáveis. A gente costuma ter sintomas psicóticos mais congruentes com o humor, mais relacionados com o humor, dentro de um quadro, por exemplo, de transtorno afetivo bipolar. O cara pode estar tão depressivo que ele psicotiza, ou tão eufórico que ele psicotiza também. E daí, o quadro psicótico tem mais relação com o estado que ele está. Por exemplo, no estado de euforia, ele entraria num quadro psicótico messiânico e achar que é um enviado de Deus. Ou ele está num quadro depressivo e ele entraria num quadro psicótico que ele ouve vozes que falam pra ele coisas depreciativas, coisas ruins. No esquizofrênico, em geral, o quadro psicótico é mais dissociado. Não é tão congruente ao humor. Mas, em geral, não costuma ser prazeroso. Costuma ser alguma coisa mais angustiante, mas nem sempre. E a pessoa sabe, doutor, que aquilo faz parte da condução? Ela tem consciência que ela está vendo algo? Depende da condução, do tratamento, do controle, do quadro clínico. O que ficou muito emblemático pras pessoas, e aquilo não é o que a gente vê em geral na prática clínica. É o que se viu no mente brilhante. Que é o cara chegar num ponto que ele virava e perguntava pra pessoa do lado o cara está conversando comigo mesmo? Pra ter certeza. Mas isso não é o que a gente vê em geral. Só uma curiosidade, não exatamente pro esquizofrenia, mas todos os problemas de saúde representados em cinema, televisão, os transtornos mentais são os mais representados. Nossa, é verdade. O esquizofrênico, por exemplo, quando tem a crise, ele sabe que aquilo, não sei se é a forma de melhor definir a pergunta, mas ele sabe que aquilo faz parte da crise, igual um repórter que teve ali, ele sabia que aquilo fazia parte da crise ou ele mistura de fato a realidade com o que ele está vendo? Até certo ponto, é o que eu falei. Depende de como foi conduzido. Se é um paciente bem conduzido, que já tem a orientação. Mas em geral, pra ele, aquilo não é uma alucinação, não é realidade. Se ele está achando que ele é Napoleão, ele acha que ele é o Napoleão. Entendi. Se ele está vendo ali sentado o Papa, ele está vendo o Papa. Não é uma coisa que não é forte a realidade. Aquilo que a gente vê no filme não é o que a gente vê normalmente. Entendi. Toque apenas gostar de limpeza, reorganização. Esse é o que a gente mais vê, né? O transtorno obsessivo compulsivo, como a gente tinha falado, ele tem, ele pode ter predomínio de pensamentos obsessivos, ele pode ter predomínio de rituais compulsivos ou ser misto. Você falou sobre limpeza. A limpeza é uma das apresentações que acho que chama bastante atenção. O da limpeza, né? Que é o mais falado, né? Ah, a pessoa tem toque de limpeza. É, não é incomum se eu vi uma pessoa com toque que ela começa a exigir que a pessoa, pra entrar na casa, tem que vestir uma, sei lá, um esparamentar pra entrar na casa, porque senão vai contaminar. Tem até uma série que mostra que, eu lembro que isso me marcou muito, eu era adolescente, mas eu assisti a essa série e mostrou casos de pessoas com toque, toques graves. E aí as pessoas, um que, por exemplo, tinha que voltar no mesmo caminho, passar 40 vezes no mesmo ponto, o outro que quando tava no trabalho, dava tal hora e ele precisava lavar a mão em casa, não podia lavar a mão em outra pia. Foi legal você colocar isso, porque assim, tem que lembrar que nem toda compulsão vai ser um toque. Por exemplo, tem jogador que só entra no campo pra jogar bola entrando com o pé direito, dá aqueles pulinhos, dá dois pulinhos, sei lá. E assim, não é exatamente o toque, ele tem que tomar um tempo expressivo da vida da pessoa, fazendo aquela atividade, e tem que ser empenhoso. Se não fizer, alguma coisa vai acontecer de mal, vai trazer uma angústia muito intensa. Então se ele não fizer, ele pode ter tanto uma crença de alguma coisa muito ruim que vai acontecer, ou ele passar o dia desconfortável em função de não fazer o ritual compulsivo. TDAH é só em criança hiperativa? Não. Hiperatividade é uma das características do TDAH, as pessoas tendem a pensar que a hiperatividade é não parar quieto, mas as vezes como eu falei, as vezes são maneirismos, você vai ficar provocando um barulho, mexer na mão, bater no pé, e o TDAH não é só de criança, ele é um transtorno de desenvolvimento. Então ele aparece na criança, mas ele pode estar presente no adulto. Pode ser diagnosticado depois, inclusive, né? Sim, muitas vezes os adultos que estão sendo diagnosticados, foi porque não foram diagnosticados na infância, né? Autismo sempre significa falta de fala ou isolamento total? Não. Não porque tem os níveis de autismo, né? O nível 1 de suporte, ele... a interação com o mundo é maior. Você identifica mais pela dificuldade de socialização, principalmente. Socialização, principalmente. Então não é ausência de fala, que mais você perguntou? Ausência de fala e... Isolamento total. Não. Então, como eu estava colocando, a interação de um nível 1, ela é diferente do nível 3 de suporte, que a pessoa vive mais voltada para o mundo interno. Tem um aqui muito interessante que é bem legal pra gente finalizar, doutor. Prevenção em saúde mental é só evitar estresse? Não. Ou evitar estresse ajuda a prevenir doenças mentais? Acho que a gente pode colocar dessa forma. Olha... O... preço do aluguel sobe, a unha encrava, o namorado e a namorada brigam, é... evitar o estresse é da natureza da vida. É muito difícil a gente evitar absolutamente o estresse. É da natureza da vida. O que a gente precisa cultivar são bons hábitos pra prevenir doenças mentais, transtornos mentais. Então bons hábitos são essencial. Então a gente falou atividade física, lazer. Eu acho que finalizaria falando que a gente fala muito sobre ligação de corpo e mente. E eu usei uma hora um termo que você até achou curioso de eu falar, musculação cerebral. Eu acho que a gente trabalhar musculatura física e cerebral tô falando de maneira figurativa, musculatura cerebral, é importante pra prevenir. Então, ler, aprender, buscar propósitos, se comprometer disciplinarmente, assim como o corpo. Você se comprometer com atividade física, você ter o hábito de fazer atividade física. Então assim, são coisas que ajudam muito. Evidente, você tá num serviço que você não gosta e você é o é o provedor principal da família, e você não tá vendo uma luz do túnel pra sair daquela empresa, e você tá se sentindo desconfortável lá dentro. Isso pode ser gerador de um quadro depressivo? Pode, se ousa, pode, pelo desconforto crônico. Lembra que eu falei que qualquer desconforto crônico pode facilitar o desenvolvimento do quadro. Mas, às vezes, num processo psicotérapico, você entende que você pode interpretar aquilo de uma maneira diferente, que te gere menos desconforto. Às vezes, você tá interpretando nesse momento de uma maneira que te gera mais desconforto. Ou, se não tá vendo luz na frente do túnel, mas dentro de um processo psicotérapico, você pode buscar, você começar a observar que existem outros caminhos. Então, além do que eu tava falando sobre a musculatura cerebral, a musculatura física, eu acho que você, o autoconhecimento e a psicoterapia, um dos processos, eu acho que pra quem, por exemplo, se sente confortável com filosofia, ou tem uma espiritualidade que gosta de expressar, eu acho que você buscar essas fontes de valores, mas de maneira de se autoconhecer e se transformar, é importante como uma forma de prevenir transtornos mentais. E esse é o recado, né, doutor, que a gente falou desde o começo lá do outro episódio, reforçando aqui pra quem não viu, tá muito legal, une junto com esse papo de hoje, né, doutor, pra que o recado seja transmitido da melhor forma possível pra realmente levar a prevenção, isso tudo que a gente tá dizendo, as melhores formas de diagnóstico, as melhores formas de tratamento, que esse é o objetivo, né, a gente até usou mais de uma vez esse termo aqui, o objetivo e a abertura é sempre essa, qualidade de vida e não é só uma coisa específica que vai trazer isso, né, doutor? Sim, sim. Eu acho que hoje a interface do médico com o paciente no sentido de prevenir e de também dar uma melhor qualidade de vida pra um paciente que já desenvolveu um quadro de saúde mental tá mais nesse sentido de rotina diária, de entendimento, psicoeducação, o que se pode ser feito nesse sentido. Eu acho que hoje a gente nem entrou nesse assunto, seria muito extenso, hoje se trabalha muito mais uma questão de dentro da medicina de buscas de alternativa, entendendo mais neurocircuitos, a neuroquímica envolvida com o quadro clínico, desenvolvimento de drogas, psicofarmacologia mais indicada pra tratar aquele paciente, mas eu acho que o que a gente se propôs aqui pra falar com o paciente sobre saúde mental, eu acho que isso é o principal. Essas formas de tratamento também dá um episódio só sobre isso, né, que você citou agora, que aí a gente pode traduzir também, que é o nosso objetivo, traduzir a linguagem pra quem não é especificamente da área da medicina, ou é, né, porque também tem muito médico que acompanha. Vou deixar o espaço aberto então, doutor, pra quem gostou desse assunto que a gente sugeriu, comenta aqui no vídeo pra que a gente possa trazer de novo o doutor Marcos pra conversar com a gente. Doutor, muito obrigada pela sua participação, por toda a paciência aqui de explicar com cuidado todas as minhas dúvidas, que também às vezes é dúvida de quem tá acompanhando, vou deixar o espaço aberto pra você também falar onde você prefere ser encontrado, rede social, site, endereço, o que você preferir, a gente vai deixar lá na descrição. Como eu falei da outra vez, eu tenho meu Instagram, arroba instapsquiatra, ele tá meio paradinho, mas nós vamos, vamos, se vocês entrarem, vamos voltar a movimentar ele, isso. Legal. E, pedi pra todos também que entendam que esse foi meu primeiro podcast. Foi ótimo. Então, é, vamos ver se tiver outros encontros aí, trazer mais informação aí nesse sentido. Foi muito legal mesmo, de coração. Obrigado. Tô agradecendo pelo pessoal que vai acompanhar aqui, que vai deixar os comentários. A gente pede pra você não deixar de curtir, comentar e compartilhar, que é muito importante pra que a gente continue trazendo os nossos especialistas em qualidade de vida. Não lembro se eu falei antes, então eu vou citar de novo, pra quem já é mais antigo aqui já sabe, pra quem tá chegando agora, só quero fazer um agradecimento para o Laboratório Origem, que é o patrocinador aqui do nosso Amatocast. O Laboratório Origem é especializado em saúde intestinal, que é onde tudo começa. O foco do Origem é qualidade de vida e prevenção. Muito obrigada e até a próxima. Tchau!