Olá, meu nome é Letícia Miyamoto e está no ar mais um Amato Cast pelo canal do Instituto Amato e agradeço mais uma vez o carinho da sua audiência e participação aqui conosco para falar sobre tudo que envolve qualidade de vida. Nos últimos episódios, nós recebemos um convidado especial e conversamos duas vezes, foram dois episódios sobre mitos e verdades da saúde mental. Hoje nós recebemos o doutor Alexandre Amato, cirurgião vascular. É um tema que a gente traz bastante aqui no Amato Cast, lipedema, mas hoje um pouquinho diferente, uma visão inédita sobre essa condição. Bem-vindo, doutor. Obrigado. Olá, Letícia. Faz um tempinho. Faz, né, que a gente não fala, não grava também. Qualquer assunto geral já fazia tempo que a gente não gravava. Com certeza, com certeza. É sempre bom estar aqui de volta. Tentei pegar algumas dúvidas aqui, doutor, inclusive dos comentários que o pessoal manda, porque sempre tem alguma coisa diferente do que a gente ainda não falou. Antes disso, para quem está, às vezes, começa a acompanhar a gente a partir desse episódio, vou apresentar um pouquinho aqui da sua carreira, do seu currículo, para todo mundo entender melhor. Professor doutor Alexandre Amato é médico em cirurgião vascular e endovascular do Instituto Amato. O especialista é doutor em ciências pela Universidade de São Paulo. Atualmente faz pesquisa científica em lipedema e é presidente da Associação Brasileira de Lipedema. Além disso, é autor de diversos livros sobre saúde. Aproveitando, doutor, como é que está essa parte dos livros? Estava querendo fazer mais alguns. Pois é, estou quase terminando um. Estou fazendo, estou revendo um sobre mastócitos agora. As pessoas devem olhar e falar assim, nossa, o que um cirurgião tem a ver com mastócitos? E o que é isso? Para quem não é da área aí, o que significa? Puxa, é muito legal, é muito legal. O mastócito é a nossa primeira célula da linha de defesa, é o nosso cão de guarda, é aquele que tem que latir quando o nosso corpo está sendo invadido por um vírus, bactéria, fungo ou alguma coisa assim. E é uma célula tão participante do nosso corpo, em todos os nossos sistemas, que ela acaba interferindo em tudo, podendo dar sintoma, desde a cabeça até os pés. Tanto que o título provisório, por enquanto, mas acho que está bem próximo do definitivo, é mastócitos descontrolados. Quando a gente perde o controle deles, a gente acaba tendo um monte de sintoma. E entre eles, o lipedema acaba sendo um dos sintomas. Essa é a razão pela qual eu entrei nesse assunto. Eu ia perguntar se tem relação ao lipedema. Bastante, bastante. Legal, até você estava em dúvida, quando a gente fez o episódio do seu outro livro, você até citou, né? Não sei direito se dá trabalho, dá muito para juntar com a clínica, então é muita coisa para fazer. E tem o lipecurso também, que a gente vai falar no episódio. Tem o lipecurso, a gente montou um curso online para todo mundo sobre lipedema, tanto para profissionais de saúde, mas quanto para as próprias mulheres que querem se entender. É um curso bem completo, está lá no lipecurso.com.br, é bem legal também. Legal, então serve para tanto médico como paciente, isso é interessante. Isso é uma coisa que me pedem há muito tempo, porque a gente tinha o curso para médico, e como é muito aprofundado, a gente não deixava outros profissionais participarem, mas não quer dizer que eu não queria fazer, quer dizer que não dava, era restrito por limitação de espaço, de tempo e tudo mais. Mas a gente conseguiu juntar um tempo e montar um curso que agora abrange todo mundo. Sim, legal. E a gente já até citou aqui, vai ter um episódio só para explicar sobre o lipecurso, tirar todas as dúvidas, acho que vai ser interessante também para quem tiver mais alguma questão. Mas a gente já aproveita e deixa o link aqui, né? Ah sim, é www.lipecurso.com.br, já está funcionando. Tá bom, aí lá também tem toda a explicação, né? Isso. Tem tudo. Então hoje eu preparei de uma forma um pouquinho diferente aqui para a gente começar, porque de fato a gente falou bastante sobre lipedema aqui já no Amatocache, como eu falei, tentei pegar as dúvidas de algumas pessoas, a gente sempre também deixa uma playlist do assunto que a gente já trouxe aqui, se quiser acompanhar algum ponto específico também tem aqui embaixo do vídeo para vocês verem. Então eu queria fazer uma pergunta diferente hoje, doutora. Se você tivesse apenas 30 segundos, eu estava no banho quando eu pensei nisso, de convencer alguém, um médico cético que não acredita em lipedema, de que é uma condição importante a ser discutida. Porque a gente já falou bastante disso, né? Mas não é fama a palavra, mas começou a de fato ter uma disseminação maior, acho que a gente pode definir assim, né? Nos últimos anos. Mas eu acredito que ainda tem algum profissional, alguém que até vem na sua cabeça agora, claro, sem citar nomes, que não acredita ainda que essa condição exista, ou que tenha contra, por exemplo, a clínica, ou enfim. Como que você faz para convencer alguém que de fato... Uma hora para resolver um problema, eu ia gastar 55 minutos planejando como fazer, e os últimos cinco fazendo, né? Mas 30 segundos eu não tenho nem o tempo para pensar e planejar. Mas vamos lá, o lipedema, ele está aí, todo dia. As mulheres têm um sintoma, e na hora que a gente junta os sintomas, acaba chegando no lipedema. É extremamente prevalente, e é diferente de obesidade. Isso está na literatura já desde 1940. Ele só foi ignorado por muito tempo. Então, infelizmente, essas mulheres eram desacreditadas. Então eu chegava para o médico, falava o que sentia, dor, peso, cansaço, inchaço nas pernas. O médico olhava e falava, ah, não tenho, não concordo, acho que não é. E tchau, problema seu, né? É uma inversão de valores, né? O problema é você que está comendo demais ou fazendo alguma coisa errada. Isso é uma transferência de responsabilidade. Agora, o lipedema começou a aparecer na hora que a gente fala, puxa, se ela tem esses sintomas, deixa eu tentar ajudar. Deixa eu tentar entender melhor. E eu acho que a minha resposta é exatamente isso. Na hora que você começa a dar valor para o que as pacientes falam, é muito nítido o lipedema, é muito fácil de enxergar. Quem não acredita no lipedema é simplesmente porque não dá valor ao que os pacientes estão falando. Acho que é isso. Passou um pouquinho, mas valeu. Foi importante, né? Não foi fácil, que tarefa. A gente não programa nada, não. Isso aqui é na lata. Como se fosse literalmente no ao vivo. Falou, falou, o que não falou não deu tempo. Agora, doutor, quando chega paciente no seu consultório, a gente já falou isso em outro episódio, mas o seu objetivo é sempre trazer a parte clínica, esse tratamento mais conservador para depois, em último caso, trazer a cirurgia. Cada vez menos eu acredito na cirurgia como uma solução para o lipedema. Eu vou explicar o lipedema de uma forma que eu nunca expliquei aqui hoje. Isso é inédito e é uma forma de entender melhor o lipedema. O lipedema é um calo. É um calo. Imagina se eu fico aqui raspando no dorso da minha mão sem parar, vai formar um calo. E eu não gosto desse calo. Se eu tirar esse calo, o que vai acontecer? Ou vai formar um outro calo, ou vai abrir uma ferida. O que eu tenho que fazer, então? Eu tenho que parar essa agressão. Essa é a minha mensagem. O lipedema é a resposta do corpo da mulher a uma agressão. Só que essa resposta, esse calo, esse lipedema, incomoda esteticamente. Traz um monte de sintoma. Traz peso, cansaço, inchaço, inflamação. E isso incomoda demais. Só que isso nada mais é do que um sintoma, de um reflexo de algo que está acontecendo no corpo da mulher. Então a simples retirada dessa gordura vai maquiar o problema, que seria exatamente a retirada de um calo. Você tira lá o calo, continua com a agressão, é o que eu falei. Vai abrir ferida ou formar o calo novamente. É exatamente o que acontece com o lipedema se você tira a gordura. Se você não tira a agressão, não tira a inflamação, o lipedema vai voltar ou vai aparecer coisa pior. Então, por isso que cada vez menos eu enxergo a cirurgia como ou definitiva, ou como cura, ou como uma solução. No máximo ela é uma ferramenta em algum momento do tratamento. Mas essa ferramenta só pode ser usada quando a agressão já parou. Quando eu já não tenho mais esse contínuo de dano no tecido adiposo da mulher. Sim, eu imagino que às vezes a paciente que já vem com essa decisão da cirurgia, é porque nós que não somos, eu me incluo na área da medicina, a gente acredita que a cirurgia, apesar de ser às vezes complicada, recuperação e tudo mais, ela traz uma resposta rápida. Porque você faz, é meio que tirar com a mão. Você tira aquele problema, resolveu, se recuperou da cirurgia, aquilo está feito, você não precisa mais se preocupar com isso. Então, a sua explicação vai exatamente na contramão disso, que você pode até tirar em um primeiro momento, pelo que eu consegui traduzir. Só que se você não for na causa daquele problema, a questão vai voltar, tudo que você resolveu na cirurgia acaba retornando. Mas é que está, não resolveu na cirurgia. O problema é que é um iceberg. Agora vou explicar de uma outra forma, essa eu nunca expliquei antes, então talvez eu me enrole aqui um pouquinho, mas é um iceberg. Aquilo que aparece no topo do mar, aquele tantinho de iceberg, são os sintomas, é o peso, cansaço, inchaço, talvez a estética. Só que tem uma base enorme lá embaixo que ninguém está enxergando. Então, quando você vai lá e tenta resolver essa parte de cima e tira essa parte de cima, o que acontece? O iceberg sobe e aparece uma ponta maior ainda. Então, eu entendo, eu juro que eu entendo por que as mulheres buscam a solução rápida, mas tem que ter um pouco de autoconsciência, tem que entender o próprio corpo antes de tomar uma decisão dessa. As pessoas são impetuosas, as pessoas tomam decisões sem pensar todo dia. Mas quando faz isso para o próprio corpo, não tem uma segunda chance. A cirurgia não tem uma segunda chance, porque se você faz o tratamento conservador e não dá certo, você pode tentar fazer outro tratamento conservador e talvez dê certo, ou continuar tentando até uma hora que dá certo. Se você faz a cirurgia e tirou a gordura, não tem lá na frente, ah, vamos botar essa gordura de volta. Tem uma outra forma de enxergar isso. Há muitos anos atrás, acho que cento e cinco anos, talvez mais ou menos isso, quando começou a cirurgia de tiroide. Então, o cirurgião que começou a cirurgia de tiroide, todo mundo olhou e falou assim, nossa, que maravilha, resolveu o problema. Só que aí ele percebeu depois que com os pacientes que ele estava tirando a tiroide, ele estava causando uma síndrome secundária, que era o hipotiroidismo. Você tirou um órgão, ele não está produzindo o hormônio, vai causar uma outra doença. Então, ele ganhou prêmio, um monte de coisa, mas ele causou uma doença. O tecido gorduroso, eu sei que as mulheres não gostam e eu sei que incomoda, mas ele não é um tecido inerte no corpo, ele não é uma coisa que está lá porque não faz nada. Deus colocou isso aí para incomodar as mulheres. Não é isso, a natureza desenvolveu isso e ele tem uma função no nosso corpo. E o tecido gorduroso, por exemplo, produz um monte de hormônio. Um dos hormônios, só para dar um exemplo, é a leptina. Ah, mas e aí? Nunca ouvi falar da leptina. O que a leptina serve? Bom, uma das coisas é para dar saciedade. Então, se você começa a produzir menos hormônio da saciedade, você vai comer mais, então você vai lá, faz uma lipo, tirando a gordura, achando que vai resolver o problema e depois fica fácil. É só fechar a boca depois que fica fácil. Não, você fez a cirurgia e vai ficar mais difícil depois, porque você vai ter menos leptina para inibir a sua fome. Então, por isso que eu falei, a cirurgia não tem volta, você não vai colocar depois a gordura, tentando produzir mais leptina, porque não vai conseguir. Então, a gente tem que começar a enxergar os caminhos, todos os caminhos, antes de escolher um que é tão definitivo e pontual como a cirurgia. E junto com essa parte de tentar explicar em 30 segundos, acho que 30 segundos foi muito pouco mesmo, mas falar para convencer o médico, o médico que vai na contramão do lipedema, eu também queria fazer a pergunta direcionada para o paciente, uma explicação que você daria para o paciente que chega desesperado no seu consultório, a paciente que chega sem esperança. Pode ser em um minuto agora, vai aumentar um pouquinho. Ok. Esperança é a última que morre, isso com certeza absoluta. Eu enxergo o lipedema de uma forma completamente diferente hoje, então se a paciente chega toda chateada porque tem o lipedema, a primeira coisa que eu falo é, puxa, que bom que você tem o lipedema. As pessoas me olham com uma cara de doido, como é que ele vai falar uma coisa dessa? Mas, na verdade, se não tivesse o lipedema, aquele dano, lembra do calo que eu estava falando, se não forma o calo, vai abrir ferida. Então o dano está acontecendo no corpo independente de ter ou não ter lipedema. Se tem o lipedema, vai formando quase que como uma carapaça, tentando se proteger dessa agressão. Se não tem o lipedema, essa agressão vai aparecer como doenças mais graves, normalmente doenças autoimunes, doenças crônico-degenerativas, são pessoas que sofrem com várias coisas pontuais na saúde. A questão é que ninguém liga os pontos. A maior parte das mulheres com lipedema, tem lá alteração no joelho, tem alteração para dormir, tem alteração no hábito intestinal, tem alteração alimentar, tem alteração no sono, tem um monte, uma sequência de alterações, mas para ela, naquele momento, a única coisa que incomoda é a estética da perna. Se a gente parar para pensar por que a estética da perna incomoda tanto, na verdade, é a inflamação na perna. Então, se você está fazendo a unha e faz uma inflamação na unha, você anda o dia inteiro comentando com todo mundo da tal da inflamação da unha. Você vai no supermercado, você comenta com o caixa do supermercado. Você diz, caramba, está doendo aqui. O caixa não tem nada a ver com isso. Mas por que você fala? Porque a inflamação, ela drena a nossa atenção para aquele ponto. Falando, ó, tem alguma coisa errada ali, você tem que resolver. Então, essa é a capacidade da inflamação de desviar a nossa atenção. Agora, imagina a sua perna inflamada o tempo todo, o dia inteiro, continuamente. Você está o tempo todo olhando para a perna e comentando incomodada e tudo. Ah, mas isso é a parte estética? Até tem a estética, mas antes disso, tem a inflamação. Se você não resolver a inflamação, você pode ter a perna mais bonita do mundo que você vai continuar incomodada com as pernas. E algumas pessoas acreditam que isso é uma questão psiquiátrica de como se vê o próprio corpo. Na verdade, não, é uma questão inflamatória. Se está inflamado, está lá, vermelho, doendo, você não consegue definir o que você sente. Então, o problema está ali. Eu olho ali, vejo duas ou três ruguinhas, ou celulite, ou qualquer outra coisa, vou colocar a culpa no que eu estou vendo. E se é aquilo que eu estou vendo culpado, vamos arrancar fora, porque eu não quero mais ver isso. E aí, muitas se surpreendem, porque arrancam fora, e aí percebem que a inflamação continua. Passei um minuto, com certeza. Até eu esqueci do minuto. É muito difícil um minuto, está vendo? Quando a gente faz um ao vivo no jornal, que tem que ser um minuto só, olha a dificuldade, que é resumir todas as informações, mas tudo bem, pelo menos foi isso. Isso porque eu treino para falar, né? Imagina quem não treina. Pois é, difícil organizar as ideias e resumir tudo. Doutor, e da primeira vez que a gente conversou sobre lipedema, aqui no Amatocast, teve alguma coisa na sua cabeça, no seu conhecimento que mudou, seu entendimento sobre lipedema, alguma conclusão sua, algum direcionamento para os pacientes? Cada vez mais eu vejo o lipedema não como uma doença, mas como um sintoma. Então, por que isso? É um pouco filosófico, talvez até demais, mas por uma razão bem clara. Quando a gente dá um nome para uma doença, as pessoas já querem a solução para essa doença e param de tentar entender o próprio corpo. Elas se resignam ao azar. Ah, eu sou azarada de ter isso, então eu quero a pílula que trata isso, ou a cirurgia que trata isso, ou qualquer coisa que trata isso. Mas o lipedema não é um azar. Então, eu estou tentando inverter a lógica para o lipedema é uma sorte, de uma forma relativa. Mas se a gente para de olhar como uma doença e olha como um sintoma, eu até posso dar um remédio, alguma coisa para aliviar esse sintoma, mas eu não posso deixar de continuar pesquisando. Eu não posso fechar o prontuário e falar ela tem lipedema, ponto, acabou e não é mais nada. Eu tenho que continuar investigando os gatilhos inflamatórios, o que levou a formar esse lipedema. E isso só acontece se a gente transforma uma doença em um sintoma. Eu vou tentar explicar isso de uma outra forma. É uma dor de cabeça. Todo mundo já teve dor de cabeça na vida. Vai lá, toma um remédio, a dor de cabeça passa. Qual que era a doença? A dor de cabeça era a doença? É um sintoma, você trata um sintoma. Todo mundo tem a noção disso. E se você toma um remédio, passa, está tudo bem, não tem mais nada, ok. Mas se você começa a fazer isso todo dia, calma aí, um problema está acontecendo. E aí você vai procurar um neurologista ou quem quer que seja, tentar buscar a fonte do problema. Mas isso já está enraizado na cabeça das pessoas, porque dor de cabeça não é doença, dor de cabeça é sintoma. E agora, e se eu falo que o lipedema então é um sintoma? As pessoas vão começar a falar, caramba, então não é só um azar. Eu posso estar envolvido nessa questão de estar acontecendo comigo. Eu tenho responsabilidade com isso também. Talvez eu melhore se eu mudar alguma coisa na minha vida. E a maior parte das pessoas sim, melhora. Só tem que descobrir o quê? O que eu vejo é muita gente patinando, gastando uma energia imensa em muita coisa que não tem sentido ou que não vai trazer benefício nenhum. E não faz aquilo lá que realmente faria diferença. O seu pareto, aqueles 20% que trariam 80% de resultado. E eu vou falar sério aqui. Virou mercado. Hoje, uma colega minha de bem longe mandou uma foto mostrando o kit que estavam vendendo de tratamento do lipedema com um monte de ampula. Está aí, tratamento pronto. O que é isso? É a terceirização do problema. É o paciente que fala, ah, eu não quero ter nada a ver com isso. Eu pago para você resolver para mim. Com certeza vai encontrar um monte de gente que fala que consegue. Só que não percebe que entra num ciclo vicioso que não tem fim. Porque vai lá, faz o primeiro procedimento e não gosta. Fala mal do médico, mas não volta lá. Mas vai procurar outro que vai oferecer a mesma coisa. Mesma coisa com nome diferente. E fica procurando tratamento estético, de tratamento estético. E é uma vida toda se inflamando e sem encontrar uma solução. As pessoas que saem dessa corrida de ratos são aquelas que começam a olhar para dentro e falar, puxa, qual é o meu papel nesse contexto todo? Não é possível. Se não é um azar, se não é uma sorte, não é uma doença, é um sintoma, o que eu posso fazer para melhorar? Se eu te falar, você tem dor de cabeça porque você come chocolate. Tem gente que tem. Você pararia de comer chocolate? Ah, a dor de cabeça é tão forte que eu pararia. Ou, não, gosto tanto de chocolate que eu vou continuar sentindo dor de cabeça. Só que a pessoa que topou continuar a dor de cabeça, não faz sentido ela continuar buscando outras razões ou continuar buscando outras explicações para aquilo lá. E o lipedema é a mesma coisa. Quando é um sintoma, a gente faz a correlação com alguma coisa, a responsabilidade está na mão de quem está vivendo naquele corpo. E depende do paciente para saber o que exatamente está causando o lipedema. Isso não é uma regra. Que é a história dos mastócitos que eu comecei a falar no comecinho. Para mim, tanto que eu publiquei esse artigo, 61% pelo menos das mulheres com lipedema tem uma fonte alimentar nos gatilhos inflamatórios. Mas para uma pessoa pode ser um alimento e para outra pessoa pode ser um outro alimento. Sim, tem os mais frequentes, mas sim, pode variar. Eu já peguei alimentos bem diferentes causando inflamação. É mais ou menos como uma alergia. Mais ou menos, porque não é a mesma dinâmica ocorrendo no corpo, mas no final gera inflamação. Mas eu me perdi. Não, era essa a pergunta. Ah, eu estava falando dos mastócitos. O 60% é alimentar, aí tinha aqueles 40% que eu não conseguia explicar. E aí eu só comecei a conseguir explicar na hora que eu me aprofundei no estudo dos mastócitos. E é uma coisa... Apesar de ser uma célula que a gente conhece há muito tempo, a profundidade do que ela causa no nosso corpo está começando a vir à tona agora. É muito legal. Essa era a minha próxima pergunta, se tem alguma hipótese, se tem algo no mundo do lipedema que pode mudar, que pode revolucionar desde a parte do diagnóstico até a causa, o tratamento, enfim. Tem uma coisa muito legal. Nossa, esse episódio tem um monte de coisa nova. Se buscar aqui o que eu falei, acho que eu não falei em nenhum outro local. Semestre passado, aconteceu uma coisa que pode ser muito bom para muita gente, e não só com lipedema, mas com outras doenças também. Só que ninguém está atento ao que aconteceu. Então eu vou falar aqui. Em 2020, duas mulheres ganharam o Prêmio Nobel por causa disso. A tecnologia se chama CRISPR. É um método, a gente já tinha outros métodos antes, mas eram extremamente onerosos, e esse método tem um custo-benefício razoável. Então dá para aprofundar a pesquisa nisso. É um método de mudança de gene. Então, se você tem uma doença em um gene só, esse CRISPR é uma proteína que foi tirada do sistema imunológico das bactérias, e ela vai lá e quebra o DNA naquele ponto e troca o gene. Imagina a grandiosidade disso. Semestre passado, uma criança que tinha uma doença que ia matar muito cedo, eles foram lá e trocaram esse gene dessa criança e doença resolvida. É tão custo-benefício aceitável que as pessoas estão brincando com essa tecnologia de fazer planta fosforescente, de fazer ratinho colorido, porque você simplesmente consegue mudar o gene de qualquer coisa com essa tecnologia. Agora, imagina se a gente começa a estudar os genes que são responsáveis pelos... É porque todo mundo vai falar dos genes do lipedema. Não, são duas coisas que correm separadas. Os genes do lipedema e os genes dos gatilhos inflamatórios. Ah, mas a gente está falando de lipedema aqui. Gente, o lipedema é o calo. O lipedema é um sintoma. É a ponta do iceberg. Muito embora eu me preocupe e trate o lipedema, eu estou olhando para o todo, para o geral. Imagina se a gente encontra os gatilhos inflamatórios que podem causar várias doenças, e vários a gente já conhece. A gente vai lá e começa a trocar o gene dessas pessoas e elas não vão desenvolver essa doença no futuro. E aí, toparia fazer uma coisa dessa? E serve para qualquer coisa, por exemplo, até se tem a probabilidade de a pessoa ter câncer, por exemplo. Sim, a Angelina Jolie, não foi? Que operou por causa do gene. Se não me engano, ela tem duas mutações. Eu não lembro os detalhes do caso dela, não porque ela não passou comigo, mas do que foi divulgado. Mas de qualquer forma, é isso. É um gene que ela poderia trocar. E isso tem uma proporção assim, tem algum prazo para isso começar a ser aplicado? Já foi aplicado o semestre passado, foi a primeira vez. Então, a primeira vez, mas, por exemplo, começar a trazer até para o consultório aqui, vai, por exemplo. Então, vamos lá. Eu tenho a minha perspectiva disso. A gente está acompanhando uma evolução exponencial da inteligência artificial e da tecnologia. A gente não consegue acompanhar a nossa mente. A gente não consegue acompanhar de uma forma linear a evolução. A gente enxerga como se fosse linear. Uma evolução exponencial é inconcebível para a gente. Mas o que se faz hoje era impensável há três meses atrás, do ponto de vista de inteligência artificial. Por que eu estou falando de inteligência artificial? Porque isso era um dos requisitos para a gente conseguir avançar bastante e rápido na tecnologia do CRISPR. Então, eu estimo que em cinco a sete anos, a gente já tem o CRISPR comercial para um monte de coisa e acessível a um custo razoável para a população em geral. Então, quando as pessoas me perguntam, ah, mas isso é para o resto da vida? Até pouco tempo atrás falava, é, fazer o quê? Agora eu falo, não, calma aí, você tem que viver mais uns cinco, seis anos e a gente repensa essa resposta. Sim. Inclusive, a inteligência artificial é o nosso próximo assunto, da nossa gravação, não focado especificamente na medicina, mas de forma geral. E a inteligência artificial também deve mudar muita coisa, não só nesse ponto que você está falando, mas ligado ao lipedema deve ter muito avanço também. Ligado à saúde em geral. Uma coisa que me deixava muito angustiado era a formação tífia dos médicos hoje em dia, porque explodiu quantidade de faculdade por aí. E, assim, não tem mais requisito nisso. Se você tropeçar na frente de algumas faculdades, você está inscrito. Tem que até que tomar cuidado que ele faz até um empréstimo no seu nome e você não percebe que você já está matriculado. E, assim, na minha época era selecionado, era extremamente difícil entrar na faculdade, então entrava aqueles que realmente conseguiam e que iam exercer da melhor forma possível. E hoje em dia não, hoje em dia qualquer um faz. Falar de médico, todo mundo gosta de falar mal de médico, é o alvo comum para... Aliás, isso é um assunto interessante para a gente falar também. Mas a I.A. vai ajudar nisso. Porque a gente vai ter a I.A. como um disco rígido externo na cabeça dos médicos, evitando que erros aconteçam. Então isso vai facilitar bastante. Eu falei que é um assunto interessante para falar, porque você deve ter visto a notícia do neurocirurgião que comentou a morte do cara lá nos Estados Unidos, do Kirk, comemorando. Isso me faz... Isso me dá náusea. Um médico comemorando a morte de alguém. Na hora que a gente faz um compromisso com a vida, não importa a vida de quem, não importa em que situação. Eu lembro que quando eu atuava no pronto-socorro, não vou falar nome, mas da periferia de São Paulo, chegava um monte de gente de assalto, criminoso. Era assim, a rodo. Toda noite tinha, tinha baleado. E assim, eu nem perguntava se era o bandido, se era o... O que ele fez, né? Eu tinha que fazer a minha parte. Eu tinha que fazer a pessoa ficar bem. Isso não importa o que causou o evento. A gente não pode abrir mão dos nossos princípios por causa da opinião de uma pessoa. Tanto de um lado quanto de outro. Eu posso concordar ou discordar de uma pessoa, eu não posso nunca mudar a minha conduta por causa da opinião dela. A gente tem que ser extremamente rígido nesse ponto. E aí vem essa abertura de faculdade para tudo quanto é lado e qualquer um entrando. Onde vai estar essa rigidez, essa formação, essa ética? Acho que isso com certeza dá um episódio só para a gente falar sobre até essa questão de como funciona na emergência, quando chega alguém que chega até escutado pelos policiais, como que é a conduta. Acho que o tema do episódio poderia trazer a visão do médico, um título assim. Trazer a visão do médico sobre a profissão, algo mais pessoal mesmo. Alguém que esteja trabalhando atualmente na emergência. Eu tenho uma vontade imensa de se um dia trocasse o jornalismo seria só para ser médica de emergência, porque acho que essa adrenalina está em mim já. Eu gosto dessa... Você sabe que tem um gene chamado gene conte? O gene conte é o gene guerreiro. Você mostrou rapidinho o seu exame genético, eu não olhei esse, então não posso falar. Esse daí sai naquele exame? Sai naquele exame. O gene conte é o seguinte, ele tem os dois extremos. Conversa comigo, é eclético. A gente acaba falando de várias coisas. Mas um lado é o GG, é o guerreiro, o outro lado é o AA, que é o preocupado, e no meio tem o GA, que são os equilibrados. Quem gosta disso que você está falando? Gosta não, acho que gosta não é a palavra certa, mas quem prospera nisso são os GG, conte GG. São pessoas que têm uma quebra da dopamina muito rápida, mas na prática o conte monta 70% da nossa personalidade. Então são as pessoas que prosperam no caos. São as pessoas que vivem... Pode estar caindo um helicóptero ali do lado, eu estou fazendo o que precisa ser feito. Mas essas pessoas não conseguem fazer o oposto. O oposto é... Se você tem esse gene, você vai responder. Não consegue fazer uma aula de pintura de seis horas. Nossa, jamais. E me dá... Nossa, só de pensar já me dá angústia. Eu realmente tenho, tenho certeza, Esse é o conte GG. O conte AA, que é o gene preocupado, são pessoas extremamente preocupadas, preocupada com tudo. Ah, vou fazer isso, não vou. Muita preocupação envolvida. Elas quebram um pouco a dopamina, então tem um excesso de dopamina no cérebro. São pessoas mais fáceis de ficarem felizes, mas elas são muito preocupadas. Mas elas conseguem manter a atenção em coisas assim, por horas a fio, coisa que o GG não consegue de jeito nenhum. São os extremos opostos. O duro é quando o gosto não está batendo com a genética. São as pessoas que gostam do ambiente, de um pronto-socorro, por exemplo, mas não tem a genética para acompanhar isso. Então fica lutando contra a própria natureza. Complexo. A minha genética, eu estou no meio. Eu não sou nenhum, nem outro. Eu tenho um equilíbrio. Tanto que eu já fiz de tudo. Já estive na vida do caos, já estive na vida do pacato. Tento achar algo onde... E a emergência não brilhou os seus olhos? Demais! Mas acaba com o meu corpo. Eu não consigo prosperar nessa adversidade. Eu preciso de um pouco de ordem. Entendi. E o lipedema que acabou brilhando os seus olhos de verdade, né? Pois é, exato. Exato. A minha dopamina está aí. Está aí em descobrir coisas novas. Legal, já dá para ver nessa conversa, né? Que a gente acaba mudando o foco do tema. Mas é, mas é. Ontem eu estava atendendo a paciente com lipedema, paciente já antiga. Se ela me ver, ela vai saber que é ela. Aí no meio da consulta, a gente começa a falar de informática e depois do software que a gente está fazendo, não sei o quê, aí ela falou, não acredito, mas eu quero fazer a mesma coisa. Então vamos lá, vamos fazer junto. Aí eu falei, eu não acredito que eu estou falando disso na consulta. Tudo bem. Um pouco mais, você pensa, né? Como que eu vim parar nessa parte da conversa, né? O que a gente começou a falar que deu aqui? E assim, normalmente é o TDAH, né? É o que vai puxando, você puxa um fio, aí vem outro, aí vem outro, no final... Não lembra nem como começou. É síndrome da Waikipedia, alguma coisa assim, é um termo... Aquele cara que entra na Waikipedia e fica clicando no link, ele entrou para ler a guerra civil, no final ele está vendo o elefante na África. Acho que eu tenho isso também. Porque é de fato, né? Tem aqueles, como é que fala? Hiperlink, né? Aí você clica em um, clica em outro, clica em outro. Mas você sabe que tem até campeonato disso? Olha lá, é o TDAH já mudando de assunto. É o campeonato... Eles dão dois termos para você, por exemplo, isso que eu acabei de falar, guerra civil e elefante na África. E aí eles fazem o campeonato para ver quem consegue correlacionar os dois termos com menos links. Então, todo mundo parte do mesmo lugar, fala assim, vou chegar no elefante. Como que você chega no... É legal. Com quantos eu chego naquele termo? Legal, acho que também eu pensei em outro tema, que é de superdotados, né? Legal também a gente falar. Isso é legal. Você falou dessa competição, eu lembrei do soletrano que tem até agora das crianças. Porque são crianças, gente, assustadoras, que fazem contas, assim, enormes. Demora 10 segundos para dar o resultado. Parece uma máquina. É o Rayman, né? Esse daí é muito legal também, notar essas duas ideias. Manda aí aqui para a gente também, se durante essa conversa, que a gente foi mudando aqui de foco, se vocês lembraram de alguma coisa que vocês querem ver aqui. Doutor, vou agradecer a sua participação. Nosso próximo episódio a gente vai falar especificamente sobre o lipecurso, um pouquinho mais sobre o lipedema também. Vai tentar trazer o doutor Daniel Benite para conversar com a gente. E a gente deixa os links aqui para quem quiser acompanhar. Obrigada. Até a próxima. Também vou aproveitar e agradecer o nosso patrocinador aqui do Amatocast, para quem já acompanha há bastante tempo, sabe? Para quem está chegando agora, só para vocês saberem um pouquinho que a gente tem a colaboração aqui do Laboratório Origem, especializado em saúde intestinal, que é onde tudo começa. O foco da Origem é a qualidade de vida e prevenção. Muito obrigada a você que acompanhou aqui até o final e até a próxima. Não deixe de curtir, comentar e compartilhar, que é muito importante para que a gente continue trazendo os nossos especialistas em qualidade de vida. Obrigada mais uma vez. Até a próxima. Tchau.